quinta-feira, 18 de março de 2010

Trilha Sonora

Convenhamos, muitas vezes temos a nítida impressão de que nossa vida é um filme. São momentos não necessariamente especiais e inesquecíveis, mas que como no cinema e até na TV, merecem trilha sonora. Momentos que falam por si só. Pensei nisso quando me dei conta de que estava sentado na janela do ônibus e via através do vidro um céu nublado, triste mesmo. Tudo bem, o que estava abaixo do céu eram os arredores da Linha Vermelha: destaque para aquela água poluída e fedida. Mas bem que poderia ser Nova York ou Londres. Afinal, nossas referências cinematográficas desses lugares nos levam a crer que o céu lá está sempre nublado e que o cara sentado na janela do ônibus com cara de cachorro que caiu do caminhão de mudança acaba de ter uma baita desilusão amorosa e está partindo, e “para sempre”. Pior, no meu iPod tocava “Você não me ensinou a te esquecer” do Caetano Veloso. Mesmo que bem resolvido afetivamente, nessa situação o cara finge que tem uma desilusão amorosa só para aproveitar aquele bonito momento, totalmente cinematográfico. Pode ser aquele amor não correspondido da sexta série, ou aquela namorada distante que você nem lembra mais o nome. Não importa, bate aquela tristeza de uma desilusão amorosa.



Trilha sonora, inclusive, não se aplica só nesses momentos. Vai dizer que ontem na passeata o Sérgio Cabral, com todas as lentes focalizando-o na “liderança” daquele movimento de 150 mil pessoas contra a emenda Ibsen não queria poder enfeitar o momento com alguma música bem politicamente correta e crítica como, talvez, “Sunday Bloody Sunday” do U2. Dá todo um charme ao momento.



Será que aquela primeira noite em que você despiu aquela mulher sensacional, na penumbra do quarto vazio, não valia a pena ter tocando alguma música do John Legend ou do Barry White? Talvez tenha sido isso que faltou para dar realmente certo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário