Não sei se são crônicas, contos ou artigos. Eu prefiro chamar de apenas pequenos pensamentos.
sábado, 27 de março de 2010
Uma história de amor que não importava
sexta-feira, 19 de março de 2010
A música fala por nós.
Essa coisa da música falar por você é muito bem trabalhada por um dos meus cineastas preferidos: Alain Resnais, em seu maravilhoso “Amores Parisienses”. Durante o filme há inserções de músicas francesas cuja letra se aplica às situações que os personagens vivem e se encaixam perfeitamente no que eles poderiam falar. Entretanto, isso acontece de modo totalmente aleatório. De repente, no meio de uma conversa aparentemente séria, uma música surpreendente em um volume altíssimo substitui o fundo silencioso e o personagem vira para você e começa a fingir que está cantando a música. É sensacional, vale muito a pena ver.
É claro que no filme do Resnais essa coisa das letras das músicas comunicarem o que queremos dizer assume um formato cômico e bastante esdrúxulo, mas a realidade é que poderíamos viver a vida facilmente citando compositores, de talento ou não. Até porque, meu chapa, muitas vezes uma linda música do Chico Buarque (quem me conhece sabe, eu adoro Chico) pode comunicar a mesma ideia que uma da Banda Calypso (quem me conhece sabe, eu odeio Calypso). Duvida? Então observe:
Imagino – Banda Calypso
Imagino... nós dois na mesma cama...
Te imagino dizendo que me ama...
Imagino o teu corpo sobre o meu...
E me lembro do calor dos braços teus...
Imagino minha boca procurando feito louca por você na hora do prazer...
E tudo isso já ficou guardado...
Pra sempre dentro dos meus pensamentos...
Eu vivo das lembranças, que você deixou daquele louco amor...
Eu te amo – Chico Buarque
(...)
Se nós, nas travessuras das noites eternas
Já confundimos tanto as nossas pernas
Diz com que pernas eu devo seguir
(...)
Como, se nos amamos feito dois pagãos
Teus seios inda estão nas minhas mãos
Me explica com que cara eu vou sair
Eu tenho todo o respeito pelo velho Chico, mas sejamos pragmáticos, as duas músicas servem! Mas é só a letra, não vai botar Calypso para a outra pessoa ouvir que queima o filme, pelo amor de Deus.
quinta-feira, 18 de março de 2010
Trilha Sonora
Convenhamos, muitas vezes temos a nítida impressão de que nossa vida é um filme. São momentos não necessariamente especiais e inesquecíveis, mas que como no cinema e até na TV, merecem trilha sonora. Momentos que falam por si só. Pensei nisso quando me dei conta de que estava sentado na janela do ônibus e via através do vidro um céu nublado, triste mesmo. Tudo bem, o que estava abaixo do céu eram os arredores da Linha Vermelha: destaque para aquela água poluída e fedida. Mas bem que poderia ser Nova York ou Londres. Afinal, nossas referências cinematográficas desses lugares nos levam a crer que o céu lá está sempre nublado e que o cara sentado na janela do ônibus com cara de cachorro que caiu do caminhão de mudança acaba de ter uma baita desilusão amorosa e está partindo, e “para sempre”. Pior, no meu iPod tocava “Você não me ensinou a te esquecer” do Caetano Veloso. Mesmo que bem resolvido afetivamente, nessa situação o cara finge que tem uma desilusão amorosa só para aproveitar aquele bonito momento, totalmente cinematográfico. Pode ser aquele amor não correspondido da sexta série, ou aquela namorada distante que você nem lembra mais o nome. Não importa, bate aquela tristeza de uma desilusão amorosa.
Trilha sonora, inclusive, não se aplica só nesses momentos. Vai dizer que ontem na passeata o Sérgio Cabral, com todas as lentes focalizando-o na “liderança” daquele movimento de 150 mil pessoas contra a emenda Ibsen não queria poder enfeitar o momento com alguma música bem politicamente correta e crítica como, talvez, “Sunday Bloody Sunday” do U2. Dá todo um charme ao momento.
Será que aquela primeira noite em que você despiu aquela mulher sensacional, na penumbra do quarto vazio, não valia a pena ter tocando alguma música do John Legend ou do Barry White? Talvez tenha sido isso que faltou para dar realmente certo.