sábado, 11 de junho de 2011

Audrey Tautou no Rio

Imagine assistir um filme magnífico e enquanto os créditos sobem a atriz principal aparecer para conversar com o público. Imagine que essa atriz seja ninguém menos que Audrey Tautou, uma das principais atrizes francesas da atualidade, a eterna Amélie Poulain. Isso de fato aconteceu na noite desta sexta-feira, 10 de junho, no Odeon, o cinema mais charmoso do Rio (isso não quer dizer que seja o melhor, até porque minha visão de Tautou foi atrapalhada pela cabeça do sujeito sentado na cadeira da frente).

Audrey Tautou: nem tão bonita assim

O filme chama-se “Uma Doce Mentira”, de Pierre Salvadori. Esse é o segundo que Tautou faz com o cineasta, mas dessa vez o roteiro foi escrito pensando nela. E deu certo porque o filme é realmente muito bom. É uma fábula engraçada como Amélie Poulain, um romance cheio de atuações fantásticas, com roteiro que faz o tempo passar voando. Trata-se da história de Emilie (Audrey Tautou), uma dona de salão de beleza que recebe carta anônima apaixonada de um de seus funcionários. Após ignorá-la, Emilie decide copiar a carta e enviar para sua mãe, Maddy (a bela Nathalie Baye), que estava depressiva há quatro anos por conta do divórcio. Maddy melhora muito seu auto-estima, como Emilie previa, e sua filha decide escrever novas cartas. É evidente que isso não vai dar certo. Os detalhes da grande confusão que se forma são todos muito bem amarrados no roteiro e, eu pelo menos, não notei nem um buraco. Exceto o fato de, francamente, Maddy, mesmo provavelmente beirando os 50 anos, ser muito diferente fisicamente da filha – leia-se muito mais bonita, já que, apesar de talentosa, Audrey Tautou não ser lá uma musa.

Elas são mãe e filha no filme, acredita?

A conversa com Audrey Tautou e o produtor do filme, Philippe Martin, decepcionou um pouco, principalmente pelo público que repete perguntas como “O que te inspirou para ser atriz?” É aquela velha necessidade de aparecer. O idiota vai ao debate com a ideia fixa de que tem que pegar no microfone e fazer uma pergunta. Como é um idiota, como disse anteriormente, ele faz uma pergunta estranha ou repetitiva e muitas vezes ainda a formula mal. Dá uma enorme vergonha alheia. E o pior é que Tautou não é desses artistas que divagam por 40 minutos acerca das pequenas coisas que a inspira e que a faz refletir sobre sua atuação e carreira e o porquê do céu ser azul. A eterna Amélie Poulain se parece com alguns de seus personagens quando dá respostas objetivas como “Não sei o que me inspirou a ser atriz. Eu apenas gostava de teatro, de cinema e de atuar.”

Houve, no entanto, alguns comentários interessantes da atriz francesa. O mais aplaudido foi quando ela disse que recebeu outros convites para trabalhar em Hollywood depois de ter feito O Código Da Vinci (para mim, a grande vergonha da carreira de Ron Howard, que fez o inesquecível Frost/Nixon), mas decidiu não aceitar porque não quer fazer carreira lá. E completou dizendo que se surpreendia de ver que o cinema francês poderia lotar uma sala tão grande quanto a do Odeon – já disse que é o cinema mais charmoso do Rio? – e que havia um público brasileiro que resistia à invasão do cinema americano. Ela também mencionou os filmes em que foi dirigida por Stephen Frears e Alain Resnais, quando perguntada sobre os que mais gostou de fazer, apesar de fazer aquele discurso típico do “é muito difícil escolher um só filme”.

Se você imagina que ser eternamente reconhecida como Amélie Poulain a incomoda, segundo ela, não é verdade. Tautou diz que se o personagem faz tanto sucesso, isso significa que ela fez um bom trabalho. Não me convenceu. Toda vez que alguém da plateia fazia algum comentário sobre O Fabuloso Destino de Amélie Poulain como “eu assisti 30 vezes” ou “ele mudou a minha vida”, ela não esboçava sequer um sorriso, mesmo sendo, em geral, sorridente.

Além de sorridente, ela é baixinha e magrinha. Foi simpática ao dar um autógrafo a um senhor que a abordou no corredor e não mostrou incômodo com os tietes que a fotografavam incessantemente – em sua maioria adolescentes, o que me surpreendeu. No entanto, ela não parece ter, pessoalmente, o mesmo charme de suas personagens. Os olhares penetrantes e sensuais de filmes como “Coco antes de Chanel” e o próprio Amélie Poulain não ficaram explícitos. Na verdade, nota-se em Tautou uma certa timidez.

Quanto à relação com o Brasil, não houve muitos comentários. Nada dos clichês do tipo “O Rio é uma cidade linda” ou “Adoro o Brasil”, mas também nenhum comentário que demonstrasse algum conhecimento do país. Exceto o apreço por Walter Salles e por seu Central do Brasil. Perguntada sobre atuar no Brasil, ela disse que precisa melhorar o português e que a decisão não depende dela apenas, é preciso haver um convite. Quando disse isso, lembrei de Vincent Cassel, que já atuou aqui em um belo filme de Heitor Dhalia, À Deriva. Tomara que a pergunta -  uma das que não foram repetitivas e estranhas – e a visita ao Brasil tenha plantado em Tautou uma vontade de atuar em terras tupiniquins. Seria uma honra.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Jornal da Record News com Kotscho e Heródoto

Tenho feito uma campanha dentro da Escola de Comunicação para que meus caros amigos assistam ao Jornal da Record News. Confesso que leio notícias mais do que as vejo na TV, mas já se tornou um costume meu assistir Heródoto Barbeiro na bancada do jornal que vai ao ar de segunda a sexta, entre 21h às 22h15.

Heródoto é um jornalista respeitável, cuja participação no telejornal muito me agrada, afinal tenho uma simpatia gratuita pelo indivíduo desde os tempos de Roda Viva. Mas a cereja do bolo é Ricardo Kotscho, esse monstro sagrado da reportagem no impresso, que comenta política - vide blog. O grande repórter das Diretas Já, só pela experiência nas redações, já seria perfeitamente gabaritado para nos elucidar sobre assunto de tamanha importância. Porém, Kotscho também foi secretário de imprensa do presidente Lula entre 2003 e 2004, tendo participado também da campanha, o que o faz conhecer ainda melhor o que está por trás do governo Lula/Dilma. Seus comentários fogem do senso comum, têm conhecimento de causa e têm um quê de bastidores. Um primor incomparável nas bancadas de telejornais Brasil afora.
Todo mundo olhando para a câmera errada. Heródoto, porém, não olhava para câmera alguma.

O formato de ter o comentarista ou convidado na bancada para uma conversa faz do telejornal algo mais interessante do que o usual hard news do Jornal Nacional, pois dá margem a uma análise personalizada, feita sem pressa e com espaço para improviso. A interatividade também é marca, porque Heródoto busca sempre perguntas de internautas para os comentaristas e convidados.

Há, entretanto, alguns poréns. A bela dama ao lado de Heródoto, chamada Talitha Oliveira, é um deles. A mocinha vira e mexe faz um comentário de dar vergonha alheia, frequentemente falando o óbvio e tão frequentemente quanto sendo ridicularizada pelo comentarista de economia, Roberto Macedo, que ignora, reprime ou ri de suas perguntas. Bruno Motta contando piadinha também é triste, ainda mais quando Heródoto somente emite um risinho educado. O comentarista de esportes traz boas informações e detalhes curiosos do mundo do esporte, mas se enrola para falar, deixando transparecer um nervosismo que, depois de quase duas semanas de telejornal, parece ser crônico.

Vale muito a pena assistir. A transmissão é da Record News TV e também ao vivo no Portal R7. Outras informações no site do programa: http://noticias.r7.com/jornal-da-record-news/

quarta-feira, 1 de junho de 2011

O ministro quieto e o parlamento bobo

400 deputados para defender sua vontade de ficar calado. Em tese.


Uma breve elucidação sobre cidadania e ciência política. No século XVIII, Charles de Montesquieu defendia a divisão do poder no Estado em três: executivo, legislativo e judiciário. Seu tripé foi aplicado em boa parte dos países ocidentais, inclusive no nosso querido Brasil. Vamos nos ater ao segundo. A função do poder legislativo é elaborar leis e fiscalizar o Executivo. Essas cinco primeiras frases são um grande nariz de cera, coroada com uma obviedade. Se você resistiu ler até esta frase, deve estar se perguntando porque, então, este que vos escreve lança mão de tamanha obviedade em seu texto. Simples: na democracia brasileira, tamanha obviedade esbarra nas trocas de favores entre Executivo e Legislativo e a função do segundo (e do primeiro também, francamente) se deturpa. Tudo isso tem a ver com Palocci, o ministro mais silencioso (de uns tempos pra cá) e ao mesmo tempo mais poderoso (talvez não tanto de uns tempos pra cá) do governo Dilma.

A oposição insiste em levá-lo ao Congresso para dar explicações sobre seu substancial enriquecimento. Natural, é o papel da oposição. A heterogênea “base” aliada deveria, a pedido do governo, barrar. 1) Isto não é natural. É obrigação do ministro esclarecer eventuais dúvidas que o parlamento e a opinião pública (como já é o caso desde a publicação da histórica matéria da Folha de S. Paulo) tenham sobre suas atividades. Ele é homem público e essas condições deveriam estar em seu job description, como dizem no mundo corporativo. 2) Boa parte da “base do governo Dilma” já começa a se desintegrar na defesa de Palocci, com declarações até de petistas, como o senador baiano Walter Pinheiro, a favor da manifestação pública do quieto ministro sobre o misterioso caso.

O caso Palocci evidencia que o governo Dilma é espalhafatoso nas suas tentativas de controlar o legislativo. Boas relações são fundamentais, mas transparência também é. A pressão pelo Código Florestal é válida (tema para outro post), por Palocci, não! Se o povo pede esclarecimento, o ministro tem que se pronunciar. Hoje, no Globo, Roberto DaMatta disse que o governo Dilma está autista, silenciado por razões que só o próprio governo sabe. O que eles pensam que são? Donos do Brasil? Não se trata de questões da vida pessoal de um indivíduo, mas de enriquecimento que, bem ou mal, tem relação com as posições que já exerceu e ainda exerce em defesa (ou não) do Brasil e, por isso, ele nos deve explicações.

No mais, qual será a opinião do deputado Tiririca sobre essa história, já que ele representa nada menos que 1 milhão e 350 mil brasileiros?