quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Por trás da coluna de Ancelmo Gois


Uma das mentes mais criativas do Globo

Bernardo de la Peña é um jornalista de 35 anos que tem um vasto histórico de serviços prestados ao jornal O Globo no campo de política e economia. Ele já venceu o Prêmio Esso duas vezes, em 2001 e 2002. Hoje é uma sexta-feira, exatamente o dia em que é preciso fechar as edições do jornal de sábado e de domingo. Pelo olhar compenetrado em direção ao computador, imagina-se que Bernardo esteja, mais uma vez, correndo contra o tempo para levar ao leitor uma notícia envolta pela seriedade que os assuntos de política e economia requerem. Que nada. Ele estava buscando, avidamente, a imagem de um selo de Tuvalu para sair do lado direito da coluna de Ancelmo Gois no domingo, dia 19 de setembro de 2010.

Mais tarde, Ancelmo iria sair de sua pequena sala, a mais ou menos três metros da mesa de Bernardo, para dizer: “Sabe o lado direito do
domingo? Eu quero uma ilustração tropical, o cara que planta bananas, uma coisa assim tipo Tropicália. A única foto é o selo, o resto eu preferia que fossem desenhos.” Ancelmo descreve a ilustração de sua preferência com gestos engraçados, entrelaçando os braços como uma Carmen Miranda desengonçada. O conteúdo da nota em que trabalharam Bernardo e o setor de arte continuou enigmático para mim. Faltando poucos minutos para a meia noite, com a redação quase vazia, Aydano André Motta, que fazia as vezes de editor da coluna (Marceu Vieira, o real editor, estava de férias), vai à impressora da redação buscar uma cópia de altíssima qualidade da coluna de domingo para mostrar ao chefe. No lado direito, trata-se de três notinhas falando sobre os lugares mais exóticos onde o presidente Lula construiu embaixadas: Tuvalu, arquipélago situado na Oceania, Uagadugu, capital de Burkina Faso, e Saint George’s, capital da ilha caribenha Granado. A ideia veio de Ancelmo e demonstra o brilhantismo e criatividade que faz de sua coluna uma das mais lidas do país e a página de anúncios mais cara do jornal O Globo.

Os quatro jornalistas comandados por Ancelmo Gois são considerados por ele “a melhor equipe de coluna do Brasil”. Marceu Vieira, editor da coluna do impresso, Aydano André Motta, editor do blog, Bernardo de la Peña e Ana Cláudia Guimarães realmente se complementam. Marceu e Aydano são dois cariocas típicos. Amigos desde os tempos de faculdade, os dois dividem a paixão pelo futebol e pelo samba. Marceu, inclusive, acaba de lançar seu CD de música brasileira sob o título Edição do autor. Aydano adora relembrar o dia em que foi cobrir o desfile do grupo E do carnaval carioca e, como Lula, costuma fazer metáforas futebolísticas. Bernardo não é muito fã de futebol, mas é fundamental para a coluna por seus conhecimentos de política e economia. Ana Cláudia trata de dar o toque feminino que não pode faltar. Para Ancelmo, ela é a “pitbull da notícia”. “Poucos jornalistas são tão fuçadores de notícia como ela”, elogia o chefe.

"A melhor equipe de coluna", segundo Ancelmo

Tratar de assuntos variados é uma lei seguida à risca. Ancelmo conta que prefere, por exemplo, ter três notas boas de um assunto e uma não tão boa de outro, do que ter quatro ótimas notas de um assunto só e deixar de tocar em alguma área de interesse. “Na coluna tem que se fazer uma mistura que você ache que vai agradar todo tipo de leitor. O leitor fascinado por televisão vai amanhã ver uma foto das pessoas de televisão, o que é fascinado por política vai ter uma ou duas notas, o que gosta de economia também, enfim, o sucesso da coluna é botar um pouco de cada”, explica ele.

Ancelmo Gois é um indivíduo estranhamente relaxado para o ambiente frenético de um jornal. Ao chegar à redação, por volta das 15h, logo o vejo sentado em uma cadeira reclinável, de pernas cruzadas, lendo a Folha de São Paulo. Ele costuma chegar à redação entre 10h e 11h e nunca sai antes da 21h. Aydano, meu tutor na redação do Globo, interrompe a leitura de Ancelmo para apresentar-me a ele. Sem hesitar, Ancelmo me estende a mão para um cumprimento, externando, logo no primeiro contato, toda a gentileza que é sua marca registrada: “Seja bem-vindo! Fique bem à vontade aí!”

Depois que terminou de descansar o seu almoço, o dono da coluna voltou para a sua sala. Naquele momento, Ana Cláudia Guimarães abria espaço na mesa que estava dividindo com Aydano para sua quentinha de risoto de camarão. Já eram quase 15h30 e Ana ainda não havia almoçado. Quando Aydano pergunta se está tudo bem, ela responde que sim, mas que ainda não conseguiu nenhuma nota. Apesar de raramente ir às ruas em seu trabalho para a coluna, Ana se divide entre o telefone e o e-mail em busca de informações valiosas que vêm de suas tantas fontes. A rotina, naturalmente estressante, se agrava ainda mais quando ela precisa resolver, por telefone, os problemas escolares de seu filho Francisco, de 7 anos.

Ana diz que não sente falta de ir às ruas, explicando que de vez em quando faz reportagens para outras editorias. Duas semanas antes de conversarmos ela havia feito uma matéria para o caderno “Ela”. “Viro amiga das pessoas por telefone. Tenho uma fonte há dez anos, mas a gente nunca se viu”, conta ela, única remanescente dos tempos em que a coluna pertencia a Ricardo Boechat. A identidade dessas fontes, inclusive, é cuidadosamente protegida. “Você não está anotando o nome das pessoas que aparecem no meu e-mail não, né?”, pergunta ela com um olhar de preocupação.

Todo esse cuidado vem de cima: Ancelmo é meticuloso em seu ofício. Ele checa os fatos várias vezes e não revela algumas de suas fontes nem aos que trabalham com ele na coluna. A título de exemplo, Aydano conta o que aconteceu no dia em que eles publicaram a informação que mais rendeu acessos ao blog da coluna: as sedes da Copa de 2014 no Brasil. No dia 29 de maio de 2009, uma fonte ligou para Aydano de Nassau, nas Bahamas, onde a Fifa decidia as cidades brasileiras que sediarão a Copa em 2014, e contou que as três cidades que faltavam ser divulgadas seriam Cuiabá, Manaus e Natal. Eis então um grande furo. Mas Aydano esbarrou na desconfiança do chefe. Ancelmo ligou para uma de suas fontes secretas para confirmar a informação, mas mesmo com ela confirmada hesitou em publicar, com medo de errar. Convencido por Aydano, a nota foi ao ar no blog da coluna às 18:17h, muitas horas depois de receberem a informação. A coluna de Ancelmo foi a primeira a publicar o fato que, dois dias depois, foi confirmado pela Fifa.

De sua mesa, decorada com miniaturas de personagens que ele adora, como Padre Cícero e Cartola, Ancelmo explica a origem de seus cuidados: “80% do tempo da gente é dedicado a segurar a pressão lá de fora. Eu recebo mais de mil e-mails por dia.” Não só e-mails. Segundos antes, Ancelmo havia falado no telefone com uma mulher que, de acordo com ele, estava muito nervosa por conta de uma nota que saiu na coluna naquele mesmo dia sobre o despejo de sua família, “inquilina do estacionamento e da antiga bilheteria do Hipódromo da Gávea.” Com uma doçura desconcertante e seu sotaque que demonstra a origem nordestina (especificamente de Frei Paulo, no Sergipe, cidade frequentemente mencionada na coluna), Ancelmo pede que ela ligue depois. Ele chega a ouvi-la um pouco, repete “Entendi” uma dezena de vezes e se despede dizendo: “Um beijo no seu coração.” As reclamações da leitora não tinham fundamento, afinal, a informação era verdadeira, mas Ancelmo surpreende pela gentileza, carinho e simplicidade (ele pergunta o nome dela e depois diz “Oi, querida. Meu nome é Ancelmo”, como se ela não soubesse com quem falava).

Ancelmo em sua mesa irreverente como ele

O jeito carinhoso pelo qual Ancelmo trata Marceu, Aydano, Bernardo e Ana Cláudia é certamente um dos principais motivos para que os quatro queiram trabalhar na coluna em vez de ir às ruas fazer reportagens. Marceu, por exemplo, me responde que não sabe se gostaria de trabalhar na coluna caso seu chefe não fosse Ancelmo Gois. Ele trabalha com Ancelmo há mais de 20 anos. Além do Globo, eles estiveram juntos na Veja e no Jornal do Brasil. O carinho é recíproco. Ao detalhar as qualidades de sua equipe, Ancelmo cobre Marceu de elogios. Para ele, a graça da coluna deve-se muito ao seu editor. Um exemplo é a palavra “saliência”, que costuma ser usada na coluna. A palavra, como várias outras expressões, vem do repertório de Marceu. Ancelmo, em uma visita à Academia Brasileira de Letras, foi agraciado com uma condecoração por resgatar a expressão antiga. Ele, é claro, fez questão de dar os créditos a Marceu. Outro elogio que Ancelmo faz é à qualidade do texto de Marceu Vieira. Além de jornalista, Marceu é escritor e compositor. Não é novidade que ele lide bem com as palavras. Para Ancelmo, mais do que isso, o seu texto é um dos melhores da imprensa brasileira.

Aydano e Marceu, amigos desde os tempos de faculdade

O jeito de Ancelmo Gois realmente é único. Ele senta em sua cadeira e começa a analisar os vários papéis amontoados sobre a mesa. Ao descartá-los, ele os joga para debaixo da mesa, no chão, sem qualquer cerimônia. Quando Aydano confirma com ele a imagem de sábado, Ancelmo diz, de um jeito jocoso que lhe é típico, “Vai ser um negócio desses aí, um bicho desses...” Mas não confunda sua peculiaridade com desleixo. Na hora de escolher a figura de verdade, Ancelmo se reúne com seu time de repórters e dá palpites, pede a opinião de um, de outro, e toma a decisão final, sempre sua. Essa pequena reunião costuma acontecer por volta das 19h. As imagens da coluna de Ancelmo Gois são, 90% das vezes, colaboração do leitor.

Colaboração, inclusive, é uma palavra fundamental para o fazer jornalístico. E colaborar para a coluna de Ancelmo Gois não só é uma honra como um prazer para muita gente. Ancelmo anda com desembaraço na redação onde trabalha há nove anos. É respeitado e adorado por seus colegas. Seu nome transmite prestígio. E eu testemunhei uma história que ilustra o significado dele para o jornal. No dia seguinte à minha visita à redação, Ancelmo publicou no alto do lado esquerdo de sua coluna, com chamada na primeira página do jornal, a informação de que em Janeiro de 2011 o governo do estado do Rio de Janeiro ocuparia a Rocinha para implantar uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). Essa informação veio de um modo curioso. Na reunião que define a capa do jornal do dia seguinte, Helena Celestino, editora executiva do jornal, conta que o governador Sérgio Cabral, que havia ido ao prédio do Globo naquele dia para ser sabatinado, disse a ela que a Rocinha seria ocupada em janeiro do ano seguinte. Depois de contar, Cabral pediu que ela guardasse segredo. “Eu não contei para ninguém”, explica ela “Só para o Ancelmo!”

“Aqui no Globo eu sou muito mimado”, conta um Ancelmo Gois sorridente. Ao mesmo tempo, Marceu Vieira, que nessa ocasião já havia voltado das férias, fixa no computador o mesmo olhar compenetrado de Bernardo de La Peña. Dessa vez, ele não buscava um selo de Tuvalu. Ele estava selecionando no acervo de fotos do jornal uma imagem de Beth Carvalho, uma daquelas pessoas que Ancelmo adora colocar na coluna porque representa bem o Rio de Janeiro. Enquanto toda a mídia dava foco a Dilma Rousseff no ato de apoio de artistas e intelectuais à sua candidatura à Presidência da República, Ancelmo notou que lá no meio estava Beth Carvalho, ainda em cadeira de rodas, fazendo sua primeira aparição pública em um ano e dois meses. No lado direito da coluna do domingo, 24 de outubro, lá estava a fotografia de Beth Carvalho e uma entrevista feita por Marceu Vieira onde a sambista explica os problemas de saúde que a fizeram ficar fora dos palcos por tanto tempo e fala sobre o futuro da carreira. Mais uma vez, a ideia é fruto dos olhos atentos do experiente jornalista de Frei Paulo que imprime todos os dias nas páginas do jornal O Globo o seu jeito carinhoso e engraçado e seu amor pelo Rio de Janeiro. Que a criatividade do pessoal da coluna nunca acabe e que ela continue sendo a coluna mais carioca do Brasil. Vamos torcer, vamos cobrar!

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Entrevista com Emily Bell, do Tow Center for Digital Journalism

O ano de 2010 foi especial para o curso de Jornalismo da Universidade de Columbia, considerado o melhor do mundo. Em 2010, a universidade nova-iorquina montou o Tow Center for Digital Journalism. O centro de estudos de jornalismo digital que promete ser um dos mais avançados do mundo, desenvolverá pesquisa e capacitação na área para a qual o jornalismo está se expandindo. O primeiro artigo científico foi publicado em setembro de 2010. O centro foi iniciado com investimentos de 10 milhões de dólares, dos quais 5 milhões vieram do Tow Institute em fevereiro de 2008. O Tow Center será dirigido por Emily Bell (http://twitter.com/@emilybell), experiente jornalista inglesa que criou o site http://mediaguardian.co.uk e foi editora de conteúdo digital do mesmo Guardian, um dos maiores jornais do mundo.

No vídeo abaixo, Emily Bell fala sobre o jornalismo e as novas tecnologias. Entre outras perguntas, ela explica exatamente o que é jornalismo digital, como moderar comentários, fala sobre textos de alta qualidade na web etc.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Dança de Salão

Mão direita que soava de tensão nas costas da dama. Perna esquerda dele pra frente, a direita dela para trás, a esquerda dele volta conforme a direita dela vai à frente. Para ele os passos vão por inércia, para ela ainda não. Aquela era a primeira aula de bolero dela. No entanto, o nervosismo tomava conta era dele, experiente professor de dança de salão. Nunca fora tão bom trabalhar em uma sala toda espelhada. A observação daquele corpo divinamente esbelto mover-se alimentava a sua imaginação de tal modo que seu coração batia acelerado. A sua dúvida era se puxava a moça para mais perto de si seguindo seu instinto de sentir aquele corpo junto ao seu ou não, já que ela sentiria seu coração bater mais forte e poderia estranhar. Antes que ele pudesse decidir, um casal de idosos o interrompeu para pedir ajuda em um passo. Ele sorriu para a sua parceira e pediu que esperasse um minuto, ela sorriu de volta dando a entender que tudo bem. Que sorriso arrebatador! Em 15 anos como professor ele nunca havia visto uma mulher com beleza tão enlouquecedora naquela academia de dança.

Após explicar o passo para os velhinhos, notou que um espertalhão havia roubado sua dama. Era o gordinho que já frequentava as aulas havia três meses e mal sabia fazer um cruzado. Como ele ousava roubar a dama do professor? Mal sabia ele que ser mestre tem lá as suas vantagens. Não precisou observá-los por 10 segundos para identificar um erro. Educadamente, ele interrompeu a dança dos dois e mostrou ao gordinho como deveria segurar a dama. Malandramente, o rapaz estava com a mão muito para baixo. Novato! Após sutilmente humilhá-lo, ele se deu conta de que era hora de terminar a aula. Deu os recados pertinentes ao grupo e os liberou, preparado para ir falar com aquela que havia se tornado a sua aluna preferida. O plano não deu certo. 1) Ao acabar a aula, especialmente naquele dia, seis alunos resolveram cercá-lo para tirar dúvidas. 2) O gordinho, que àquela altura do campeonato suava em bicas, foi puxar papo com ela, que sorria sem graça.

Quase 48 horas de espera torturante se passaram até que chegasse o momento dele reencontrá-la. Faltando 15 minutos para a aula ele olhou pela janela da academia de dança para ver se a via chegar. Ficou alguns minutos olhando, até que gotas d’água começaram pouco a pouco a bater no vidro. Um minuto depois, um temporal caiu sobre o Rio de Janeiro. A cada pessoa que aparecia na porta, ele quase tinha um infarto esperando que fosse ela. A aula começou e só havia quatro alunos na sala. Após 10 minutos de aula surgiu na porta o gordinho. Mesmo ela não tendo vindo naquele dia, um prazer ele teve: o de colocar o gordinho para dançar com a dona Ive, a senhora de 86 anos que havia vindo justamente naquele dia, após um mês afastada da dança de salão.

Ele viveu noites de tormenta lembrando daquele sorriso cheio de esplendor, dos olhos azuis à Finlândia, das pernas que iam e voltavam no balanço do bolero... No sábado a noite, o professor foi à Lapa. Talvez ela tivesse decidido pôr os poucos passos que aprendeu em prática naquele fim de semana. Destemido, ele foi ao Democráticos, ao Lapa 40 graus e a três bares na mesma noite. Encontrou muitos conhecidos, mas, é claro, nenhum deles era ela.

Terça-feira, 19:45: momento de tensão. Novamente faltava 15 minutos para o começo da aula, a previsão do tempo não mencionava chuva e na sala já havia sete alunos. Quando o seu relógio da Casio marcava exatamente 19:58, ela apareceu na porta com uma saia rosa e uma camiseta branca. Que primor! Pela respiração ofegante, ela correu para chegar na hora. Ele perguntou porque havia faltado à última aula e ela disse que se surpreendeu por ele ter notado sua ausência, deu um sorriso tão lindo quanto o da semana anterior e explicou que, com a chuva, preferiu ir para casa, já que a rua Jardim Botânico, seu caminho, alaga facilmente.

A aula daquele dia foi divina. Eles dançaram juntos e enquanto dançavam conversaram. Ela claramente havia aprendido alguns passos. Ao final da aula ele perguntou como ela havia melhorado tanto em tão pouco tempo e ela respondeu que havia ido à Gafieira Elite, ali perto da Lapa, no sábado a noite.

Ao fim da aula de quinta-feira, ele a convidou para ir a um baile no dia seguinte. Ela aceitou e, de quinta para sexta, a ansiedade não o deixou dormir mais que três horas. Nesse pouco tempo de sono ele sonhou que a beijava no meio do salão e que ela o olhava apaixonada enquanto ele passava a mão por seu cabelo loiro, num carinhoso movimento que tirava o cabelo da frente de parte do rosto para que ele pudesse ver melhor aquelas feições de beleza incomparável. Passou a sexta-feira inteira pensando em como seria encontrá-la, planejando os passos que ensinaria a ela, a conversa que eles teriam, cada momento propício para beijá-la etc.

Eles se encontraram na Cinelândia às 21h. Ele estava sentado em um dos bancos esperando por ela quando a viu emergir da saída do metrô, divina, em um vestido amarelo que delineava seu corpo melhor do que qualquer outra roupa que ele já havia visto ela vestir. Além disso, maquiada ela conseguia ficar ainda mais bonita. Era inconcebível que Deus houvesse criado algo tão belo quanto aquela mulher. Enquanto ela caminhava em sua direção, ele lembrou que estava loucamente apaixonado por uma mulher que mal conhecia. Isso também era inconcebível, mas ao mesmo tempo era impossível de controlar. Ele queria mais do que nunca agarrá-la, tocar seu corpo livremente, dizer coisas que nunca sentiu-se a vontade para dizer a qualquer mulher. Trocaram beijos no rosto e ele ficou inebriado com o perfume. A conclusão é de que ela era perfeita, nada menos que perfeita.

Logo que começaram a andar, ela pediu licença ao seu professor e tomou a frente na caminhada, rumando para o cinema Odeon, onde havia uma pessoa parada. A princípio, ele não entendeu, mas logo foi tomado pelo pavor da surpresa. Na frente do Odeon estava o gordinho da academia de dança, que a recebeu com um beijo na boca e um abraço apertado, que denotava a paixão entre o casal.