quarta-feira, 25 de maio de 2011

Jorge Kajuru, o contador de histórias

Ele esteve na UFRJ
“Alô ouvintes da Rádio Ka. Neste momento, o presidente do Itumbiara está vindo na minha direção com um revólver apontado para o meu rosto dizendo que vai me matar!” Não é exatamente comum ouvir isso no rádio, seja nas grandes cidades ou mesmo no interior. Mas, na verdade, nada que venha de Jorge Kajuru pode ser considerado comum. Ele conta de pé a história do dia em que quase foi assassinado em Goiás, aproximando a boca dos punhos cerrados como se fizesse uma transmissão de rádio. Naquela ocasião, na cidade de Itumbiara, ele se preparava para narrar um jogo da semifinal do campeonato goiano em um estádio lotado, cujos portões haviam sido abertos por seu algoz para que toda a torcida gritasse contra o jornalista. Kajuru denunciou no rádio que o presidente do clube da casa mandara desligar as luzes do estádio quando seu time perdia de 2 a 0 para que o jogo fosse adiado. Enquanto era ameaçado, Kajuru pensou numa estratégia para se salvar. Lembrou que o presidente do Itumbiara era natural da cidade vizinha, Guaiatuba, e com frequencia se queixava do quão terrível era a cidade de Itumbiara. “Olha, se você quer me matar, tudo bem, mas vamos sair daqui. Vamos para Paris e você me dá um tiro lá porque morrer em Itumbiara é sacanagem, hein!” Essa foi a carta na manga de Kajuru. O assassino de repente foi murchando, abaixou a arma e começou a dar passos para trás, contra a vontade do público que gritava para que ele atirasse no radialista. O gaiato imita no auditório o semblante consternado e o gesto que o presidente do Itumbiara fez para sua torcida, com as mãos para o alto, como se pedisse para que ela se acalmasse. São e salvo, Kajuru encontrou por coincidência este mesmo sujeito alguns meses depois em uma churrascaria em Goiânia. “Rapaz, sabe que você foi esperto. Não te matei só porque Itumbiara é uma merda mesmo. Saí de lá, voltei para Guaiatuba. Aliás, agora gosto muito de você hein!” confessou o novo amigo do polêmico jornalista de Ribeirão Preto.

Essa é uma das muitas histórias que Jorge Kajuru conta – todas de pé, com abundância de gestos e memória invejável para nomes e datas  - ao longo de quase 2 horas e 30 minutos de papo descontraído, permeados por gargalhadas de uma plateia de mais ou menos 50 universitários da Escola de Comunicação da UFRJ. Os elementos extraordinários das histórias, ao mesmo tempo que carimbam Kajuru com a qualidade de contador de histórias nato, erguem dúvidas sobre a veracidade dos fatos. Jorge Kajuru é jornalista e humorista e muitas vezes o segundo título atrapalha a profissão de origem. Ele mesmo anuncia no início do papo que aquilo poderia parecer um show de stand-up comedy e que ele iria falar muita “merda”.
Abundância de caretas
Kajuru está diferente daquele jornalista polêmico que se consagrou nacionalmente em programas esportivos na RedeTV (de onde se demitiu no ar), TV Bandeirantes (onde foi demitido no ar) e no SBT. O estilo combativo e indiscriminadamente sincero que o notabilizou – amparado na premissa de Millôr Fernades de que “imprensa é oposição, o resto é armazém de secos e molhados” – é lembrado frequentemente através das denúncias que vai fazendo ao longo da conversa, mas que já não têm o mesmo espaço na mídia. Seu blog estampa no subtítulo a frase “Aqui tem tudo que a mídia esconde”, mas o principal emprego é o programa Kajuru Sob Controle, na TV Esporte Interativo, que tem esse nome justamente para deixar claro que as rédeas lá são curtas. Existe também um Kajuru Sem Controle, programa transmitido em cinco afiliadas do SBT e quatro da Band. A sua duração, no entanto, é comparável a programa eleitoral: 5 minutos. O Kajuru Sem Controle também está no rádio, em 56 emissoras Brasil afora. O apresentador passou por maus bocados nos últimos anos – com o esquecimento da mídia e problemas de saúde - mas atualmente se diz feliz. Apesar de se lamentar que não enriqueceu – mesmo já tendo recebido mais de R$ 100 mil por mês – as menções a jantares em restaurantes caros como o Antiquarius, no Leblon, e ao apartamento confortável na Barra da Tijuca revelam que Kajuru não tem uma situação financeira periclitante.

A aparência de Jorge Kajuru mudou mais ainda. Vestia uma camisa de malha larga, longe dos trajes que costumava usar na TV. Também usava um chapéu-palheta, o primo feio do panamá, e óculos redondos de lente azulada, uma mistura desafortunada daqueles usados por John Lennon e Bono Vox. Por trás dos óculos, um dos olhos não enxerga por deslocamento de retina – Kajuru usa uma prótese – e o outro só alcança 20% da visão. A cirurgia de redução de estômago parece ter feito com que Kajuru emagrecesse em todas as partes do corpo menos no estômago. O rosto antes gorducho parece que foi lipoaspirado e, somado ao pescoço fino, parece não pertencer ao resto do corpo. O sorriso agora tem um quê de resignação.
Humorista ou jornalista? Indubitavelmente, um bom contador de histórias

A principal característica de Kajuru é ser depreciativo: dele mesmo e dos outros. Ao se depreciar Kajuru evoca uma estratégia cômica muito tradicional, mas ao falar mal de outras pessoas ele encontra o seu ganha-pão. Achar o lide de uma entrevista em que há uma declaração polêmica sobre uma pessoa importante é fácil. Difícil é achar o lide quando há inúmeras declarações e histórias polêmicas. Talvez a melhor estratégia seja listar o que Kajuru fala sobre diversas figuras públicas, como ele fez em seu livro “Condenado a Falar”, que vendia a apenas R$ 1,00, em uma clara tentativa de ultrapassar a Bíblia.

·         Sílvio Santos: É um dos admirados por Jorge Kajuru, mas também um dos principais personagens de algumas histórias, dentre as quais a mais notória concerne sua ignorância sobre o futebol. No início da carreira, ainda nos anos 80, com 21 anos, Kajuru era repórter esportivo no SBT durante as transmissões do campeonato paulista. A narração era de Osmar de Oliveira e o comentarista era Juca Kfouri. Um belo dia, Silvio decidiu ver uma transmissão do jogo e comentá-la. No fim das contas sugeriu duas mudanças: que o narrador da partida fosse Lombardi e que a repórter do gramado fosse Gretchen, vestindo, naturalmente, um mini short.

·         Milton Neves: Arqui-inimigo de Kajuru. É mencionado duas vezes nos primeiros dois minutos de conversa. Além das usuais críticas a seu estilo de fazer merchandising de todo e qualquer produto, Kajuru conta que, em um debate em uma universidade paulista, Milton Neves quis agredí-lo e foi segurado pelos estudantes.

·         Wanderley Luxemburgo: “O Luxa é execrável porque ele é o tipo de cara que vai na tua casa e canta a tua mulher”. A história que Kajuru contou do atual técnico do Flamengo, se verdade for, é de deixar o ex-presidente do Fundo Monetário Internacional, Dominique Strauss-Kahn, no chinelo. Kajuru é muito amigo do músico Ivan Lins (esse, aliás, não foi mal-falado uma vez sequer!), tanto que é o padrinho de sua filha, Diana. Em 2000, durante as Olimpíadas de Sidney, boa parte da equipe de imprensa estava hospedada no mesmo hotel, em Gold Coast. Diana Lins, então com 17 anos, também estava no hotel, assim como Luxemburgo, que também é amigo de seu pai. Kajuru conta que a moça já havia sido cantada pelo técnico de futebol duas vezes quando, em um dia em que estava mais bela que nunca, se deparou, ao abrir a porta da cabine do banheiro do ról, com Luxemburgo com seu pênis para fora (!), insinuando que queria transar com a adolescente. Kajuru, inclusive, faz questão de confirmar a teoria de que Luxa é bem dotado. A história tornou-se pública rapidamente, indignando notáveis presentes no hotel, como Galvão Bueno, que quis agredir Luxemburgo.

·         Casagrande: Ainda sobre Sidney 2000, o comentarista Casagrande também estava presente. Kajuru conta que “bebeu muito com ele e fez outras coisas também”, depois coça o nariz, como se quisesse comunicar alguma coisa. Ele conta ainda que não costuma mais usar essas drogas. “Hoje, eu prefiro só me basear”, completa.

·         Roberto Carlos: Também é o tipo de cara que vai na sua casa e canta a sua mulher. Kajuru conta que o ex-lateral esquerdo da seleção brasileira roubou a mulher de Renato Maurício Prado quando este foi visitá-lo em Madri. Na mesma noite em que jantaram, Roberto Carlos teria levado Renata para o banheiro e transado com ela, que gostou tanto que só voltou para o Brasil um ano e meio depois. Kajuru usa o caso para declarar seu apoio ao relacionamento aberto.

·         João Havelange: “Gagá e ladrão.”

·         Ricardo Teixeira: Só é menos odiado que Milton Neves. Para Kajuru, é o responsável pela maioria de suas demissões. Lembra que certo dia Silvio Santos o chamou no camarim para avisar que Ricardo Teixeira estava pedindo a sua cabeça.

·         Juca Kfouri: Um grande amigo. Kajuru o considera um equivalente atual a João Saldanha, só que menos culto. Aí se enrola para explicar que isso não significa que Juca não seja culto. Foi a primeira pessoa para quem Kajuru ligou ao descobrir que sua ex-mulher havia sido violentada em Goiás. 

·         Sócrates: Um dos melhores amigos de Kajuru. É mencionado em todas as entrevistas concedidas pelo apresentador. Companheiro de bar: “Bebe até estanho.” Kajuru também é bom bebedor. Afirma que “quem bebe socialmente é viado e burguês”.

·         Luciana Gimenez: A apresentadora de TV que tem um filho com o rolling stone Mick Jagger é a responsável pelo único processo contra Kajuru que ainda tramita na justiça. O processo surgiu depois que Kajuru disse em um programa de TV que Gimenez é mais burra que a mesa. O jornalista conta que se surpreende que tenha sido processado por Luciana Gimenez e não pela mesa.

Usual indignação: infelizmente, com menos espaço na mídia